“Nós já botamos a granada no bolso do inimigo. Dois anos sem aumento de salário”. O trecho da fala do ministro Paulo Guedes, extraído da reunião ministerial do último dia 22 de abril, sintetiza bem o modo como o titular da Economia enxerga o servidor público no país. Longe de se tratar de uma simples alegoria, a afirmação de Guedes é apenas mais uma das reiteradas ofensas gratuitas e públicas ao funcionalismo, dignas, no mínimo, do mais veemente repúdio por parte das representações da classe.
Da comparação a “parasita” às acusações de conivência com a corrupção no passado, a campanha depreciativa capitaneada pelo ministro tem método e busca impor à opinião pública o sentimento de banalização da figura do servidor e do papel do serviço público frente à sociedade brasileira. Desta forma, tornam-se mais palatáveis os sucessivos ataques, que, em maior ou menor medida, enfraquecem direitos e afetam diretamente o poder de compra da classe. O mais recente deles, conforme o próprio mencionava no trecho reproduzido acima, se trata do Projeto de Lei Complementar (PLP) 39/2020, que congela salários de diversas carreiras, já defasados em virtude da corrosão inflacionária e reduzidos pelas novas regras previdenciárias.
Ao tentar alçar o servidor ao posto de inimigo do país e das contas públicas, numa análise completamente descolada da realidade, Guedes mostra total desconhecimento do setor público e de sua importância diante da crescente demanda social. Ainda mais grave é notar que tais afrontas vêm justamente daquele que tem sob sua subordinação a área de gestão de pessoas na Administração Pública. Vale destacar, como dado da realidade, que, apenas em 2019, o trabalho da Advocacia-Geral da União garantiu um resultado positivo de, aproximadamente, R$300 bilhões ao Estado, montante que poderá ser revertido para áreas essenciais no atendimento à população.
Não podemos e não vamos jamais nos calar diante da escalada de ofensas e ataques em curso. É o servidor, que, com honestidade e zelo pela coisa pública, materializa, por meio de suas atribuições e prerrogativas, as garantias previstas na Constituição Federal. É o servidor que mantém o Estado de pé, a despeito das adversidades, e num momento como o atual, está na linha de frente do combate aos impactos de uma crise de grandes proporções, tanto para a saúde quanto para o sustento de famílias e empresas.
O servidor público merece respeito!