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LUTO

Ninguém é Perpétuo

  14/12/2015



Colegas, Diretores, Representantes Estaduais e Associados da Anpprev,

Como já divulgado perdemos nosso querido Zé Perpétuo. A Anpprev decretou luto pela perda e a nossa conhecida sala das bandeirinhas passará a chamar-se doravante Espaço Procurador José Perpétuo de Souza. Pretendíamos encomendar missas em Belo Horizonte e Brasília, entretanto a pedido da viúva Marciene de Souza e dos filhos, não realizaremos atos religiosos.

Faço das palavras do próprio Perpétuo encaminhadas pelo Dr. Francisco Mauro, representante no Piauí, e do texto escrito pelo colega Luiz Valli Neto da Procuradoria de Ipatinga/MG as homenagens Anpprevianas.

Antonio Rodrigues

Presidente



“Esta é a segunda vez que utilizo este título para me referir ao Dr. José Perpétuo de Souza, e nas suas ocasiões por motivos tristes. Os motivos do primeiro texto, não valem a pena ser aqui repisados. Agora, os motivos são ainda mais tristes, em face do passamento do dileto amigo.

Mas as palavras que usei naquele texto, ainda servem para descrever a pessoa do Dr. José Perpétuo de Souza, e me permito reutilizar parte daquele texto para dizer que para os que o conhecem(ram), é dispensável qualquer palavra. Para os que não tiveram este prazer, passo a em breves palavras a tentar descrever e apresentar esta figura ímpar.

O Dr. José Perpétuo é (foi) um dos Procuradores mais antigos do Brasil, integrando esta carreira a certamente mais de 30 anos, estando encabeçando a lista de antiguidade na carreira. É Mineiro de Itabira, terra de Carlos Drumond de Andrade, e como Drumond, também afeto às letras e à poesia, que com certeza muitos de vocês já tiveram a oportunidade de apreciar, em ocasiões como dia das mães, namorados etc, datas em que o mesmo sempre nos brinda(va) com sua maravilhosa arte de transformar em palavras os sentimentos mais puros da alma e do coração.

Para os que o cercam(vam), o tratamento afável, a disposição para ajudar, o prazer pela convivência fraternal, o riso fácil, o bom papo num fim de tarde tomando uma cerveja, são (eram) sua marca registrada.

Quisera eu ter o dom das letras, para aqui poder melhor transmitir tudo o que penso do Dr. José Perpétuo, algo que pudesse de fato fazer jus à pessoa formidável que ele é (foi).

Mas ninguém é perpétuo, nem mesmo o Dr. José Perpétuo, que nos deixou nesta última sexta-feira.

Por fim, quero dizer que ninguém é perpétuo em cargos, funções e nem mesmo na vida, mas, durante esta vida o Dr. José Perpétuo de Souza só fez angariar admiração, respeito e amizade.

Vá meu amigo, e eu fico com a saudade e a certeza que nos mistérios da salvação, colherás os frutos da bondade e da fraternidade aqui semeados.

Quero também retransmitir palavras ditas pelo próprio Dr. José Perpétuo, que certamente servem a este momento de despedida.”

(Luiz Valli Neto)




Prezados Amigos e Colegas,

“Os cisnes cantam mais bonito quando sofrem.”

Nem precisava buscar na poética de Aristóteles, ou na sensibilidade de Drummond, a inspiração para estar aqui nestas linhas, debaixo dos olhos de todos vocês.

Se a vida me permitisse voltar os ponteiros do relógio, faria tudo igualmente outra vez.

Menino ainda (alma cheia de sonhos), ingressei nesta instituição.

Aqui construí minha vida, e para ela doei cotidianamente minha existência.

Aqui fiz amigos, (que não são poucos) e trago na bagagem o carinho de todos eles.

Chegou o momento de oportunizar os mais moços, deixá-los participar deste “banquete”.

Minha historia aqui, tem pouco mais de 40 anos. Os capítulos foram simples, discretos, como simples é minha vida.

Dizer que exerci funções de Chefia em Belo Horizonte, Brasília, Natal e nestes últimos 15 anos em G. Valadares, seria mera vaidade.

A vaidade, sempre a deixei pendurada no guarda-roupa. Vestí-la para quê? O melhor tecido que cobre os humanos, é o apreço, o respeito, a gratidão, a consideração, e a lealdade para com os amigos.

A justeza nas decisões e nas atitudes também faz parte deste vestuário.

Segundo Thomas Hobbes, “ o homem é o lobo do próprio homem” (busca do poder). Esta máxima nunca foi a minha preferência .

Machado de Assis, também, ao se reportar à vaidade humana, disse que “o poder é tão sedutor que provoca volúpia nos incautos”.

Esta volúpia sem nenhum pudor, entorpece as pessoas e vira uma cadeia anestésica na consciência dos mais jovens, esquecidos de que sem a experiência não existiria a inexperiência.

Afinal, somos produtos de consumo da cultura ocidental. Os orientais, caminham em sentido inverso.

Talvez, e por isso, que os divãs dos psicanalistas ocidentais estejam repletos de depressivos, de mal resolvidos na vida - companheiros da solidão, embora acompanhados.

A solidão, por estas e outras, já é classificada nas estatísticas como o grande mal do século. Falta amor, onde ele já era escasso.

Às vezes, na quietude do meu “sós”, me pergunto:

Quanto tempo dura um devaneio?

E o amor quanto tempo dura?

Se debutante, 15 anos.

Se duradouro, 40 anos.(1970/2010)

Sem dar por isso, foi minha vida dedicada à instituição.

Nunca precisei de “troféu”, e nem placa de “honra ao mérito” para me motivar.

Por traz de cada processo, nunca me esqueci que havia um necessitado gritando pelo seu direito.

Precisaria de motivação maior?

Foram tantos altos e baixos que aprendi, com o tempo, a temperar a paixão da mocidade, desviando-me da vaidade e fugindo do “pote” do poder. É preciso ter sensibilidade para isto.

O velho Albert Einstein, em momentos de lucidez asseverou: “Procure ser uma pessoa de valor, em vez de ser uma pessoa de sucesso. Muitas das vezes, ao buscar uma coisa, você encontra outra”. O sucesso, passa. O valor é perene e dá moral aos homens de bem.

Falar de amor a uma mulher, e a uma instituição nos dias de hoje assusta, e nos julgam sonhadores.

O sonho é o projeto da realidade. Nesta ótica é impossível racionalizar a emoção.

Shopenhauer, sempre pensou “que começamos a morrer a partir do momento que nascemos.” Por conseguinte, temos poucos momentos para nos amarmos.

Aqui vivi e amei. Por isso, conclui que, o importante não é viver em um lugar, mas ter um lugar para viver. Aqui encontrei o meu lugar.

Quando amamos, damos o que não temos, e recebemos o que nos falta. (este é o mistério).

Uma “Portaria de exoneração” é apenas a “anatomia de um monólogo”. O DO, nunca permitiu o diálogo.

Nestes 15 anos de função e 40 anos de carreira, tudo nos foi permitido. O pouco ou muito que fizemos, teve a participação de todos.

Em qualquer relação há cumplicidade.

Fazer juízo de valor agora, é tentar apontar quem mais ou menos errou. Pouco importa nestas circunstâncias. O que ainda consola é que (e ficou de herança), desta trajetória de vida vivida ( e juntos), a certeza de que vivemos e sobrevivemos a tudo, inclusive as nossas próprias incompreensões.

Conseguimos navegar e ultrapassar, as ondas de um mar revolto (de emoções fortes e perdidas), mas este mar não conseguiu nos naufragar.

Ao constatarmos ainda que somos fortes, não podemos nos apequenar diante da singeleza de uma crise. Os fracos e os pequenos de alma, por vezes, se curvam revelando-se incapazes de qualquer tentativa de superação.

Talvez é tão cômodo depositar nossas próprias falhas nas falhas alheias. Às vezes, falta-nos coragem para olharmos para dentro de nós mesmos. Simplesmente dizer que tudo acabou, que não da mais para seguir adiante, é sublimar, ou encontrar motivo plausível para fazer com disfarce o que não deveria disfarçar.

Simples demais, não é? Mas no inconsciente, está escondido o medo, ou o desejo de não continuar.

Aos simplistas restam os arrependimentos, as angústias de não terem feito o que poderiam fazer...

Na altura de nossas vidas, o tempo não nos permite ser tão simplistas assim. Cerrar os olhos para esta verdade, é a negação de tudo vivido e sentido juntos...

Aos desiludidos, (o meu troféu) pelas suas incapacidades de saber viver e conviver com a própria vida.

Sinto isto gritar forte dentro de mim. Se julgaram agora, o que fizemos nesta trajetória de (40 anos), é porque estávamos de mãos dadas. Sinto ainda o calor deste afago.

A filosofia nos ensina que ao final, o tempo não chega ao fim, posto que infinito: Não tem pernas, mas andou. Nem olhos, mas chorou. Não é um pássaro, mas voou e sobrevoou na imensidão do nosso existir.

Depois, volta a cantar a mesma melodia alegre em cada recomeçar.

Afinal, o que fazer nos momentos de crise existencial?

O que pedir quando as forças estão se esvaindo?

A resposta mais cômoda, de quem não quer enfrentar seria: afastar, terminar tudo...

Ficaria tudo resolvido? Depende do que se quer...

Os mais fortes não se afastam, dão licença para a prossição passar, vez que acreditaram no que sempre fizeram e poderão ainda fazer vida afora.

Por estas razões, mais do que óbvias, não partem, por saberem ser esta partida inútil, vez que sempre é permitido voltar. E neste voltar, conseguem sentir que não perderam, eis que já se mostrava perdido aos olhos dos que nunca me conheceram, nestas situações difíceis e delicadas de nossas vidas.

Portanto, a superação faz parte dos humanos, eis que nunca se perde o que foi conquistado. Sabem que mãos acorrentadas se libertam. Que corações perdidos sempre encontram ao final.

O caminho da volta agora é uma questão de semântica, talvez, não valha mais a pena. Os fortes superam as dificuldades, não por serem fortes, mas por não se sentirem frágeis. Quando isto acontece, os humanos dificilmente se separam dos humanos.

“Os cisnes cantam mais bonito quando sofrem.”

Esta, é a outra dimensão que podemos atingir se não ficarmos pobres de alma e escravos de estrelas perdidas na imensidão de galáxias vazias...

Depois constatamos que:

“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.”

Por fim, revendo a biografia de Cristo, constatamos que um beijo pode construir ou destruir uma humanidade. A metáfora do gesto fica ao exame do telespectador.

Meu muito Obrigado aos amigos e colegas que tiveram a nobreza de manifestarem expressamente em seus e-mails.

Abraços do amigo e colega, não eterno, mas “Perpétuo”

José Perpétuo de Souza.




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